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2 0 2 4JOKER: FOLIE À DEUX, título em francês de um filme norte americano, cuja tradução mais literal seria "Coringa: Loucura à Dois", talvez seja um caso inédito na história do cinema. Sucede um brilhante filme anterior que conquistou amplo sucesso de público, conseguindo a façanha de arrecadar mais de um bilhão de dólares. E ainda foi também um dominante sucesso de crítica, só não maior devido a uma rejeição essencialmente ideológica de parte da crítica profissional, que encarou o filme como um libelo anti-capitalista. Mas o que vemos nessa sequência é um desastre intencional. Pois não é possível que alguém com um mínimo de senso de realidade não fosse capaz de prever que esse filme desagradaria seus públicos alvos, principalmente os que mais gostaram do anterior. Aliás, é difícil saber o que os produtores tinham em mente nesse sentido, pois o que Todd Philips, o diretor, pretendeu, é algo que pode até fazer sentido de um ponto de vista autoral íntimo, mas jamais do ponto de vista do público. E então, os infames executivos de Hollywood deixam de fazer o seu quase sempre nefasto trabalho justamente quando se precisa dele, pois um mínimo de intervenção visando uma "coisinha" chamada "agradar o público" bem poderia ter sido feita. Invalidar tudo o que foi construído no filme anterior, e que parecia continuar sendo construído neste quase até o final, definitivamente é um tapa na cara dos espectadores responsáveis por tornar "Coringa (2019)" um sucesso. E subversões do tipo podem até ser aplicadas a novos conceitos, mas não a personagens que já possuem um background icônico. Mesmo que já não houvesse uma profunda expectativa sobre o protagonista, a subversão apresentada no desastroso final não me parece defensável em nível algum. Quanto a fãs do gênero musical, ao qual eu também me enquadro, não me parece ser o público alvo primordial, visto que este ainda depende do público do filme anterior, e na melhor das hipóteses entrega um musical mediano. E os fãs de Lady Gaga... dificilmente não foram decepcionados pela condição coadjuvante da atriz, e ainda por cima pela saída precoce e melancólica, no pior sentido da palavra, de sua personagem do foco da estória. OBS: o quão vexaminoso seria se eu dissesse que, tendo ido ver o filme com o mínimo de informação possível, não reconheci a cantora em momento algum?! (É sério! Só soube que era ela nos créditos!) O público do primeiro filme é amplamente composto por entusiastas da temática de super heróis e do Universo DC, e por óbvio, muito menos que o primeiro, este filme de agora definitivamente não objetivou agradá-los. Sequer os Wayne foram citados, ainda que o tema apontado no filme anterior tenha ficado inconclusivo. E o nome do promotor ser Harvey Dent é de tamanha irrelevância que poderia ter sido completamente omitido. O significado de 'to spoil' é estragar (no caso as surpresas do enredo) portanto, nem tenho como SPOILAR AQUI mais do que o filme em si já fez. Mas confesso que gostei bastante da maior parte do estória. Ao menos uns 70% do filme é bom, e mesmos as canções, que são uma alegoria dos devaneios escapistas do personagem, a mim encaixaram bem na maior parte do tempo, embora em alguns momentos elas interrompam um ritmo narrativo de forma incômoda. Mas muito diálogos, aliás desde o começo, também me desagradaram, em especial as falas do próprio Arthur Fleck. Não que o Coringa tivesse que ser o tempo todo eloquente, mas eu esperava mais, se não algum sarcasmo mais profundo, ao menos construções de diálogo melhores do que demorar 10 segundos para responder uma pergunta, e então fazê-lo com um monossílabo irrelevante. Entendo que não temos aqui o super vilão genial, maléfico e caótico ao qual os fãs de Batman se acostumaram. O Coringa de Joaquim Phoenix é quase um acidente, e sobretudo, uma construção social do imaginário anti-sistema de uma população socioeconomicamente excluída. (ANTI-SISTEMA REAL! E não a fraudulência de vigaristas da estirpe desprezível de Javier Milei e Pablo Marçal!) Mas justamente este tema, o de um movimento social espontâneo e conturbado que prometia tomar as ruas de Gotham City, e que aliás foram tema relevantíssimo do primeiro filme, aqui é retomado apenas perifericamente para então ser completamente abandonado na ruinosa sequência final. O que Todd Philips almejava é a "desconstrução" de seu filme anterior, num espírito similar ao de José Padilha que após ver Tropa de Elite ter uma recepção excelente, mas diferente do que ele havia previsto, procurou corrigir o rumo em Tropa de Elite 2. Ocorre que Padilha, por mais problemas que tenha (do tipo ter levado o psicopata de Curitiba a sério) não procurou destruir o Capitão Nascimento, apenas dando a ele um direcionamento diferente e tão bom quanto o do filme anterior, deixando de focar sua violência nos pobres das favelas e levando-a direto contra os poderosos. Mas aqui, o diretor decidiu destruir o personagem original numa sequência final patética, frustrante, e ainda por cima confusa, que até tem elementos que poderiam ser melhor desenvolvidos resultando numa revelação bombástica que teria o mesmo efeito (no caso, que aquele não era o Coringa real, mas apenas a inspiração para o verdadeiro supervilão que surgiria depois). Mas do modo como foi feito, o resultado final é tão catastrófico que consegue, de forma indireta, macular até o primeiro filme! E o pior é que era fácil fazer melhor! Qualquer dos imbecis executivos que nada entendem de arte conseguiria. Bastava que o personagem misterioso em questão tivesse recebido algum desenvolvimento maior, mesmo que secundário, no mínimo equivalente ao de Ricky, o admirador de Arthur Fleck na prisão, e então, na catarse final, sua auto imolação não tivesse ficado num "pano de fundo" praticamente imperceptível, e ainda fechasse o filme com alguma sequência minimamente épica, como havia sido o assassinato de Murray Franklin. Sim! Dar ao público o que ele quer! Não é ele que paga as contas afinal?! Ou melhor, que o verdadeiro Coringa encontrasse Arthur Fleck nas ruas, que a morte do protagonista tivesse ficado em aberto, ou quem sabe, até terminando com assassinato dos Wayne. Sei lá. Qualquer coisa seria melhor que aquilo. Que construir uma reviravolta entusiasmante, a explosão, gerando uma excelente sequência de fuga, para depois ser totalmente arruinada e a estória voltar à estaca zero! Dando aquela sensação de que tudo o que foi visto até então, e parecia uma lenta e promissora construção de uma grande evento, como foi o caso do primeiro filme, na verdade não passou de enrolação, propaganda enganosa, promessa fraudulenta para entrar um final que não apenas é a pior parte do filme, mas uma das piores partes de qualquer filme minimamente similar. E foi de propósito! IMPERDOÁVEL! A não ser que tenhamos uma versão alternativa com os 15 a 10 minutos finais completamente diferentes, CORINGA 2 é um daqueles filmes que apesar dos muitos méritos estéticos, alguns momentos até geniais, ainda assim, NÃO DEVERIA EXISTIR! Por que a animosidade contra "O POÇO 2"? Achei ótimo! Tão bom, talvez melhor, que o 1°!Mais uma fala minha, de hoje, contra a privatização na Câmara Legislativa do DF. Setembro de 2024
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